Sui Caedere

16 de mar. de 2012.

Hoje eu posso dizer que sou livre, pois senti na pele o que aflige a alma.
Muitos pensamentos já povoaram a minha cabeça sobre o tudo que me cerca.
Mas a melhor alternativa foi optar pelo tradicional, clássico e eficiente método de cura.
Sentindo-me realizado em ver o líquido rubro percorrer pelas minhas mãos e corpo.
Um delírio difícil de explicar, mas de qualquer forma vou tentar.

Preparando-me para a morbidez de causa, cerquei-me de certezas sobre o ato.
Talvez não exista nada pior do que o arrependimento após a liturgia egocêntrica.
Escrevi em palavras parte daquilo que me é caro dos motivos e também do fardo.
Não tem como exprimir em palavras dor tão devastadora, seria muito dramático...
Optei por uma linha racional, medindo meus esforços e minhas frustrações e voilá!
 
“Mas a minha tortura inda é maior:
Não ser poeta assim como tu és
Para gritar num verso a minha Dor!...”
                           -Florbela Espanca
 
"A ideia do suicídio é um potente meio de conforto: com ela superamos muitas noites más."
- Friedrich Nietzsche

Em um banheiro com os azulejos brancos e a banheira combinando, adentrei-me nú e sem juízo.
Lavei o meu dorso como um animal que esta prestes para ir ao abate só que consciente.
O despertar da fúnebre noite não poderia ser mais perfeita com uma música de fundo.
Agora sim, penso inconsciente, enquanto ouço o som do violino moribundo. Clássico!
As ferramentas enroladas sobre a toalha evidencia o meu destino; O traço do fim.

Com o corpo sentado na banheira cheia, ouvindo o som da sinfonia e da água a vibrar.
Vejo o meu reflexo por um estilete com um punhado preto e com detalhes em pratas.
Nada mais justo do que deixar a vida mundana com tamanha preciosidade, penso eu.
Fiquei refletindo como é fortes o poder de tal arma branca e o quanto de útil seria.
Aqui estou eu, invejando os que já morreram por fardo ou não. Finalmente...

“Sou eu! que não esqueci
A noite que não dormi,
Que não foi uma ilusão!
Sou eu que sinto morrer
A esperança de viver...
Que o sinto no coração!”
       -Álvares de Azevedo


A música, prevendo o ato do fim, entrou em um estado piano, onde a suavidade reina.
Deu para ouvir até o solfejo de um pássaro, como era bela a cena que enxergava.
De olhos fechados e com a lâmina afiada rente ao meu pulso,preparava-me para o momento.
Conseguia enxergar rios límpidos, aves formidáveis e até a minha musa a qual sempre será.
Com esse paraíso na minha mente, a música foi entrando em seu ápice, chegou o momento..

Ouvindo o acorde denso quebrar o sereno sinfônico à vontade me preencheu com força.
Forcei a lâmina na minha pele como primeiro passo e finalmente a rasguei!
As camadas de pele do meu punho agora estavam dilaceradas antes mesmo da lâmina percorrer a sua rota.
Os esguichos de sangue banhavam-me o corpo e o banheiro pálido agora tinha sangue vivo.


“Já não havia amor!... O mundo inteiro
Era um só pensamento, e o pensamento
Era a morte sem glória e sem detença!
O estertor da fome apascentava-se
Nas entranhas... Ossada ou carne pútrida
Ressupino, insepulto era o cadáver.”
                                 -Lord Byron


A dor mesmo até que demorou a aparecer, sentia-me estranho com as mãos de sangue.
Parecia até que isso tudo foi uma mentira, até que a senti finalmente... Uma dor enorme!
Vindo do meu braço e atingia tudo o que ali pertencia; até mesmo meu peito doeu, dizendo.
A água que fui imerso rapidamente se tornou vermelha também, mostrando a todos o meu destino.
A dor parecia infinita e eu pensando apenas até onde tudo isso iria durar...

Parece que dei sorte e não sofri tanto quanto imaginava, morri minutos após o corte final.
Li relatos de que a pessoa ficara agonizando até por horas, eu não queria isso.
Bastava viver todos esses anos em agonia, na morte não. Pensei em jugular ou na perna.
Mas não seria condizente com o que sinto, pois apesar de mórbido, até sorri.
Imaginando que o caixão não era tão terrível quanto viver por ali.

“Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.”
                 -Augusto dos Anjos

7 Comentários:

Laysha Vampira disse...

Visitando-te.
Agradeço o carinho de sempre.

Beijos sangrentos da vampira Laysha.

☠Neith War☠ disse...

Morrer...quantas vezes mais precisaremos morrer para saber que é na morte em que vivemos?
Maravilhosas palavras, pude sentir cada minuto deste fim tão esperado, o coração aos pulos ansiando pela lâmina!Adorei a forma como os textos de outros autores se encaixaram tão perfeitamente com tuas palavras.
Engraçado, mas estou te amando, como amo Penélope e Laysha...

Unknown disse...

Prendeu minha atenção do inicio ao fim
... que escrito fascinante e extremamente intenso
... e um triste fim!

Está de parabéns!

Unknown disse...

Agradeço pelas agradáveis visita ao "silence"
...só para esclarecer, Lady Suna esteve comigo
desde o inicio até agora lá no blog, e agora
é hora dela expressar seus sentimentos de forma
mais ampla ... em seu próprio blog .
Onde já vi sua presença, grato pelo apoio!

e novamente , parabéns pelo excelente escrito,
Boa tarde e Bom início de Semana!

Penélope Luzi disse...

Perfeito! Impecável a colocação de cada texto dos grandes mestres. Querido Pierrot sua alma é belíssima! Um grande beijo.

.●.※゚・.•°∴ .•☆☥Nath☥☆.●.※゚・.•°∴ .• disse...

Texto bem elaborado e sentimentos aflorados!!!
Ficamos com a dor por um tempo...e depois chega a hora dela morrer e com ela metade de nós morremos...a morte é uma libertação para a alma aflita para que nós possamos ressurgir das cinzas com outros sentimentos e outras sensações!!!
Boa noite!!!
Beijão querido lord

Anônimo disse...

me encantas estes teus suspiros ao saber que deixas dessa para ir a uma melhor
o lado negro de tua partida me faz corroer a alma
nem queres ouvir minhas preces e derramas o que havia de bom em mim na escuridão de tua mente devassa
mesmo assim sigo passo a passo após de ti
diante da dor de te amar que me cega a vista ja castigada de tanto chorar
derrame meu sangue sem pensar,afaste esta dor que me aflige

me faça fechar os olhos para nunca mais abri-los novamente..
me deixe morrer em paz
ass:melry silva de moraes

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